De repente aparece por obra do homem um novo personagem. Não é alguém cuja presença seja uma total surpresa — falam dele desde os anos 1950, desde quando vieram com a notícia do computador. É até provável que antes dessa década já falassem do tal “algoritmo”, mas era papo só de matemáticos. Agora o algoritmo entrou nas rodinhas.
Por enquanto, não possui sobrenome: é o algoritmo do Facebook. Logo conheceremos o algoritmo do Instagram, do Snapchat, do Tinder.
Também não possui rosto, mas isso é o de menos, o que ele mais tem é imagem para escolher, ele pode escolher a imagem que quiser. Contanto que seja jovem. Um algoritmo tem de ter uma imagem jovem, porque é um personagem que nasceu ontem. Daqui a muito tempo haverá algoritmos velhos, mas isso será história para daqui a muito tempo.
Seja como for, apesar da fama, ninguém sabe como o algoritmo funciona, apenas especulam, com base em uma ou outra matéria veiculada na imprensa e na rede. Sabemos que ele gosta de tomar decisões sem hesitar e que se liga em postagens muito curtidas e comentadas.
Dizem que dá bom conselho, dizem que é fisionomista, dizem que lembra o caminho certinho percorrido desde que saiu de casa. Elogiam o seu senso de humor, mas há controvérsias. No máximo — outros afirmam — concorda com as opiniões expressas na rede, quando viralizam. É certo que não tolera nudes, pornografia e certas apologias, porém esticam no meu ouvido que a certeza não seria dele, mas de seus criadores, esses pudicos demais.
Descobri que virou fã da cor azul. E seu signo: aquário. Obviamente adora casamentos, trata-se de um festeiro sem igual. Faz como pode aproveitar a vida, férias e viagens são com ele mesmo. Aparentemente, prefere como destino a Europa e os EUA, mas existem registros de sua passagem por Antígua, Cartagena e Calcutá. Por outro lado, comento: entre nós se exibe demais, irrita às vezes, porque não cultiva a menor pretensão de evitar ferir suscetibilidades. Nesse ponto, é terrível.
Muitas vezes dá briga. Briga de foice.
Sem falar nos exageros, exagera e muito. Tem gente que sofre.
Imagino que seja assim com toda ferramenta. Nossa humanidade já inventou tanta ferramenta, o algoritmo virou um personagem fascinante. Bom para aproveitar o pôr-do-sol, tomando uma água de coco e batendo um papo animado.
Ainda assim, não se conhece o seu gênero, a orientação sexual, se é cis ou se é trans, qual é a sua classe social e o seu posicionamento político. Não sabemos se acredita em Deus e nos santos, se prefere o crossfit à musculação, se é a favor de veganismo e de filme de super-herói. Mas isso é detalhe.
Publicada na RUBEM - Revista da crônica. Leia esta e outras crônicas em www.rubem.wordpress.com